terça-feira, novembro 29, 2005

Personagens III

Ele dizia-lhe, a medo:

- Não sei como te pedir isto, mas será que podes agarrar o meu coração, antes de ele cair aos teus pés?

Ela respondia, também com receio :

- Como queres que faça isso?

E ele, quase sem expressão na face, lívida, como sempre, respondeu-lhe :

- Quando te disser OLÁ, não olhes para o lado nem finjas que não estou lá, quando te perguntar as horas, não escondas o relógio nos bolsos, que já conheço todas as tuas calças, quando te perguntar se está tudo bem, não respondas só sim, diz-me o que está mal que eu engulo o meu próprio sangue para te ajudar. Quando te pedir apontamentos daquelas aulas a que não fui, quando te perguntar o que fazes, o que ouves, o que gostas ou mesmo quando fizer silêncio a olhar simplesmente para ti, não demonstres distância, não me digas "bom tenho de ir", não me alvejes os sentimentos e não pintes de negro as minhas estúpidas perguntas. Quando te vejo sinto o coração a bater-me tão violentamente no peito, que até as palavras me fogem da boca. Não te peço que me ames mas talvez, que me reconsideres, guardando-me em ti para sempre que me dirigir à expressão gloriosa dos recantos inabaláveis da tua beleza, mas isto são adjectivos a mais, para quem só te quer amar perdidamente e para todo o sempre.

sábado, novembro 26, 2005

Tête à tête

É verdade, tive uns tête à têtes,
Sim já tive alguns, é normal.
Não me esqueço das discussões
Sim, também é verdade.
Mas é das conversas de amigos
Que eu melhor me recordo.

Depois também já chorei,
A verdade é que não me lembro
Da última vez que isso aconteceu,
Mas também já me ri
E isso eu não olvido nunca,
Ainda ontem me ri, melhor eu estou a rir.

Se é verdade que as lágrimas tingem a alma,
Então os sorrisos marcam-se no coração.

E o que era de mim sem os tête à têtes,
Sem as aulas de artes marciais,
Sem aquelas folhas da cascata,
Sem aquela nova especialidade, o dentismo,
Sem aquele simplesmente fabuloso não tou entendendo,
Sem a minha futura encenadora do grupo de teatro,
Sem, de vez em quando, cair um cacetadão,
Ou os "cookies" de um amigo que não conheço.

Não há velas que se acendam sozinhas,
É com o calor exterior que o pavio queima.
A vela que somos brilha com os amigos que temos.

Eu torno-me mais pequeno com a humidade das lágrimas
E enrijeço a débil frieza que se propaga na alma,
Mas é com amigos como vocês que aqueço o coração,
Consigo dormir descansado e consciente que vou sorrir amanhã,

Encosto-me um pouco no passado apenas para vos recordar e logo a seguir levanto-me a correr para o momento de modo a não chegar atrasado aos vossos corações,

Obrigado pessoal!

segunda-feira, novembro 21, 2005

Nunca

Nunca deverás julgar o amor que
sinto por ti.
Nunca deverás atentar aos beijos
que tanto tos quis dar.
Nunca deverás contrariar os sentimentos
que te expressei.
Nunca existas para que não me lembre
que em mim vivias.

Nunca serás uma miragem nos meandros
do deserto de mim.
Nunca serás uma nuvem, nevoeiro, nem neve
no meu céu.
Nunca deixarás de ser o céu nem o deserto,
no entanto.
Nunca digas um nunca na minha presença
magoas-me para sempre!

Nunca que o teu cabelo deixe de brilhar, com essa breve neblina de estrelas, que se dispersam em cada fio de seu tear orgânico, de amável e doce novelo. Nunca te surpreendas, minha bela infanta-anjo, se o teu amanhã colidir com o meu hoje, pois sou só eu a sonhar contigo, neste hoje onde morri a fixar tua imagem.

terça-feira, novembro 15, 2005

Eu ponho sempre o título primeiro ....

Até porque me ajuda a pensar
No quê que a alma quer dizer,
Às vezes até começo pelo fim,
Não vá o fim deixar ser belo!

Às vezes começo pelo meio,
Ou dou uma volta e espreito,
Como quem não quer a coisa,
Aquelas penúltimas palavras.

Agora não me peçam para
Começar tudo o que escrevo,
Até porque quem escreve
São o coração e a mente,

Não peçam para adivinhar
O que Eles sabem ou sentem,
Não perguntem sequer se os conheço!

Eu ponho sempre o título primeiro,
Depois deixo a alma lembrar-me,
Ainda no primeiro verso,
Para seguidamente eu concluir,
O sentir, o querer e o pensar
Com esta massa corpórea que vos fala....

sábado, novembro 12, 2005

Segue-me!

Vem comigo, aperta as botas,
Vamos seguir o nosso caminho,
Já vejo as portas de árvores,
Arbustos, flores e animais,
A entreabrirem-se para passarmos.

Eu vejo as nuvens sussurando,
As estrelas comentando,
A chuva tropeçando enquanto cochichava ...

Mas anda daí, o que ganhas aí?
Quanto te custa a tentativa,
O caminho, a estrada, anda
Sou eu quem te oferece.

Eu vejo as montanhas sorrirem,
As ondas do mar a desabafarem,
Com a areia que lhes morre nas mãos ...

Eu penso e penso e tu não vens,
Eu segui o trilho sozinho
Olhando para trás à espera de ver teu vulto
E lá atras só distingo sombras.

E vento sopra agudo até ao fim da minha caminhada, roubando o calor, antigo, da tua presença, desbasta a minha alma e leva-a com ele também. E vou seguindo caminho mas em cada rocha, cada árvore, cada poça de água ou até em cada riacho, por mais pequeno que seja, eu vejo-te e é por isso que ainda não parei, eu olho para ti e digo, SEGUE-ME!

segunda-feira, novembro 07, 2005

Permissa

Deixaste-me escrever
Nos teus olhos, a minha dor.
Deixaste-me desejar
Nos teus lábios, a alegria
E permitiste que acreditasse
Que o Mundo não é redondo
E as estrelas giram à nossa volta!

Deixaste-me pintar,
No teu rosto a sinfonia... de amar
Deixaste-me esboçar,
No teu coração as palpitações do meu
E fizeste-me acreditar
Que o Oceano era um lago,
Os peixinhos já só voam
E até o céu fugia do mar.

Porque é assim que te imagino
Uma jóia perdida no mar,
Onde tantos te cobiçam
E só um te colherá, eternamente!

E é assim que te vejo,
Com mil névoas à tua volta
E um semblante austero,
Que arrepia o próprio frio!

E carrego nas pedras da calçada
Para caminhar na tua direcção,
Depreendo-te numa nuvem
E deixo até lá, fugir meu coração.

" Não peço que me distingas no meio da multidão,
Apenas que saibas que no infinito da tua alma, mora para sempre meu coração "

quarta-feira, novembro 02, 2005

O Teu Nome ...

Escrevi, no sol, o teu nome,
Mas se pensas que foi para me lembrar de ti,
Estás enganada.
Escrevi no Sol pois não consigo olhá-lo,
Sem magoar a vista e deixar de ver por uns momentos,
Não sei se sabes mas é esse o teu efeito em mim.

Quando te ouço, deixo de ouvir tudo à minha volta,
Quando te vejo, deixo de ver tudo à minha volta,
Quando te toco, deixo o meu corpo em ti.

Quando não te vejo, ouço ou toco, eu olho para o sol, confiando que a dor de não te ver seja, talvez, suprimida pela dor do sol que me visita todos os dias, com o teu nome a reboque.

Vou escrever o teu nome na Lua,
E ela vai repeti-lo às estrelas
E elas aos planetas e os planetas ao infinito
E eu nunca te conseguirei esquecer,

Até minha lápide terá o teu nome,
Pois nem a morte me roubará o que és para mim ...