quarta-feira, dezembro 28, 2005

Como esquecer?

Como é que posso esquecer
Quando tudo o que me acontece
.... É lembrar, lembrar-te

Num destes dias hás-de me recordar, também.

... espero ...

É verdade que o relógio e suas horas,
Não são muito esbatidas em mim,
Mas do pouco que vivi, dá-me a sensação,
De que me queres trasformar novamente em criança,
Naquele puto que sentia qualquer frase
Daquela rapariga, como uma terrina de cristal
A cair desamparada num chão de aço,

Tinha que a agarrar e ouvir,
Ainda que fosse só um,
"Olá, estás bom?"

Tenho-te agarrada aos meus sentidos,
Desenhei-te no frio que a noite levanta,
Plantei-te no calor da seca tarde
E colho-te todos os dias pela manhã,
Carregando um pouco de ti no coração.

"Esquece-a", disseram-me...

E eu esqueci, mas lembrei-me, recordei-me e não esqueço

Mas alegro-me por saber que és feliz,
( Vi num filme estas palavras )
A verdade é que as sinto apesar de não me bastarem

Recordo-te sim e não te vou esquecer, nunca,

....... Obrigado

quinta-feira, dezembro 22, 2005

Em disto de nada ...

Fomos dotados de sentidos
Fomos arrependidos e chorámos,
Fomos dotados de sentidos,
Alegres e cantámos, rimo-nos!

Fomos assaltados por dores
E irritações no coração,
Fomos invadidos por paixões,
Que nos fizeram cócegas na alma

E rimo-nos, cantámos, cantámo-nos!

Fomos revestidos de sentimentos,
De momentos e alturas, fases.
Fomos investimento de sentidos
E não perdemos um tostão, sequer!

Lembrei-me que não gostava de sentir,

"Ser um mero robô, autómato e sem sentido",

Disse.

Houve quem me ajudasse a mudar de opinião,
Agradeço e então compreendo
Que não devo desdizer o coração.

Colocarei tais palavras num canto distante do sentir,
Não me arrependo de nenhum dos meus sentimentos,
Nem das dores, nem dos sofrimentos,
Nem das gargalhadas.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Mostras-me o tempo?

Serás capaz de respirar
Mesmo quando a dor te sufoca
A ponto de te sorver o tempo,
Todo ele, de uma só vez?

Serás capaz de te mostrar
Ao infinito como um pedaço de tempo?

Tens força suficiente
Para resistires ao frenético som das horas?

Mostras-me o tempo?
O tempo todo,
Escrito numa gélida mão,
Polvilhada de minutos, segundos,
De fracções mínimas da realidade?

Não!

Não!

Então porquê chorar,
Com as costas roçando uma esquina do pensar,
Ao relento e ao frio do sentir,
Quando tudo o que trazemos às mãos é tempo,
Quando o que nos sufoca e alivia é o tempo
E quando a resposta que ele nos dá é a esperança?

Não! Não vais chorar, não enquanto a tua face estiver pálida e anémica de tempo. Não! pois se o tempo tem o dom de escorregar, também se eterniza ao longo do palpitar prazeiroso do momento.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Como uma folha

Solto e breve como uma folha,
Assim o desejo ser,
Levado pela corrente do momento
E abandonado no ar,
Solto e breve como uma folha.

Tropeçando nas rajadas pontuais,
Mas sempre em movimento,
Breve, pausado, calmo,
Mas no fundo aventureiro, também.

Quero ser curto no espaço e no tempo
Mas desafiar as leis da gravidade, de vez em quando.

Não pretendo ser folha de adorno,
Nem me imiscuir nas cores do arco-íris,
Desejo somente voar, sem rumo nem destino,

Solto e breve como uma folha
E nunca me esquecerei da árvore onde nasci,
Nem dos ramos onde cresci,
Apenas aceitarei a sua perda como natural
E enfrentarei o destino que a brisa me reservar,
Sempre soltando a minha felicidade, sem nunca a perder.

Solto pois sou livre,
Breve pois sou livre,
Solto e breve porque a liberdade multiplica-se, se assim o desejarmos.

sábado, dezembro 10, 2005

Estou proibido de amar

Eu nunca liguei muito a isso,
Mas um dia, ela lá marcou a consulta.

O doutor Sensibilidade disse:
" É melhor consultar um da especialidade "

Fui ao doutor Mentalidade:
" Penso que o seu amor é do foro cardíaco "

Tentei o doutor Coração:
" Os meus colegas têm razão,
Você vive o amor não com os sentidos,
nem com o raciocínio,
Você vive-o com o que carrega ao peito! "

" Diga-me doutor, é grave?!"
" Não, é muito bom! São raros os pacientes,
Que padecem da mesma doença que o senhor.
Enquanto estamos sob o efeito do amor,
Tudo nos parece belo e fantástico,
Nada nos pode derrotar e eu não tenho
Qualquer medicação para tal efeito,
O Amor não deve ser prescrito como a Morfina,
Mas quando o efeito nos abandona ... "

" Fale doutor! O que devo recear? "

" As ressacas, sim as ressacas,
Não há overdoses de amor,
Porém as ressacas são letais,
Não se esqueça que o senhor toma
Esse Amor, pelo peito, e se há dor
Ou queda, é no corpo que se manifestarão."

" E o que posso fazer?! "

" O senhor está estritamente proibido de amar,
Corte nos olhares à distância,
Nas palavras silenciosas e ocultas,
Nas ilusões brilhantes e esbeltas,
Evite os toques, as sensações e até
Os pensamentos.
O que tem é uma doença crónica, agravada de
pensamento em pensamento, que só terminará no
dia em que falecer.
Se amar, ame com a mente, pode ser que ajude,
O coma amoroso é, muitas vezes, irreversível "