sábado, março 25, 2006

Cantiga

Canta cada momento da tua vida
Canta pois cada clave sua é única

Canta com voz chinfrineira, alta e desafinada
Pois é assim a música que a vida comunica

Não cantes baladas ou dores de alma
Porque o momento deve ser desgastado

Com altos gritos de euforia, alegria e vivalma
Não com timbres melancólicos e pesados quase de pecado

Canta ao ritmo da existência
E permite que os versos não rimem

Deixa as rimas para os poetas e autores de conveniência
Deixa isso da métrica e escreve a vida com as mãos que o coração tem.

domingo, março 19, 2006

Até ao último momento

A vida é uma perda constante,
Na realidade, a vida será perdida,
Tudo o que nos corporiza terá fim.

Somos uma redacção que ditamos
Aos nossos sentidos e emoções.

Não há como fugir da inevitabilidade da vida,
Da agilidade do tempo sobre os momentos
E libertam-se sons de alegria durante os mesmos, ainda assim ...

Tudo o que temos é tudo o que iremos perder,
Mas tudo o que não temos, é algo que podemos ganhar,

Há que não temer os espaços derrotados,
Os momentos desenlaçados e os orgãos falecidos,
Há que aguardar os bons momentos, pois eles são imensos
E exasperam por ser descobertos, por nós!

Até ao último batimento cardíaco,
Até ao último "sopro" de vida,
Até à última aurora ou crepúsculo vividos,

"A nossa vida é um livro ainda aberto a qualquer capítulo, que Um Escritor será capaz de redigir. Não esperes a alegria, pois é ela que espera por ti, vai, ainda vais a tempo."

sexta-feira, março 17, 2006

Há palavras que não se dizem

Nem eu te vou dizer quais,
Há palavras que nos magoam e tu sabe-lo,
Há tanta coisa que fica por dizer...

Há tantos espaços que ficam por preencher,
Não sei se me compreeendes, de certo não,
É o meu mal, sou esotérico de mais ...

... até para mim

Se há perguntas que não merecem resposta,
há respostas que não merecem perguntas,

Não compreendo, estou confuso e confundo-me e estrago-me.

Vais-me pincelando a mente de duros silêncios
Eu escuto-os com atenção e deixo-me a desfalecer neles,
Mudo, calmo enquanto tu foges para longe com medo da minha timidez.

Ai se eu tivesse uma bola mágica, sinto que agora percebes,
Desculpa-me os silêncios, mas são, também eles, pedaços de ti,
Que guardo junto ao peito.

"No Amor nunca deverá haver competição, quem ganhar, os meus parabéns. Quem não competir sei que perceberá o amor, assim sendo, nunca o quererá sentir. Não compito, observo, se assim o entenderes, prova o contrário"

terça-feira, março 14, 2006

Claudiquei

O frio que enregela o coração, também enJoa na alma,por outra, o que magoa emocionalmente mexe no intelecto, pode nunca vir a ter resultados prácticos,contudo afecta a possibilidade de não confundirmos acções com emoções.

Posso dizer que já me magoei,
Não deixei o coração desfalecer,
Talvez por isso experimentei
Esta dor de nem sempre viver.

Mas não temo momentos maus, eles hão de chegar um dia, quando menos os esperar, por isso não me vou preocupar em encontrá-los, tenho muito tempo para os corrigir...

Como é estupendo ser criança!
Pensar, ser e escrever como uma,
Quais tempestade! Só se vê bonança
A alegria existe, que se assuma!

Não vou mais escorregar as minhas mãos húmidas de momentos nestas teclas intermináveis, pois não desejo escrever a dor, nem tão pouco conselhos, não há maior conselho que aquele que um dia ouvi:

Conselhos irmãos, conselhos há imensos!
Mas o único que deveis dar e receber
Não se escreve com lábios ou verbos intensos,
Sussurra-se com o coração de amor a ferver,
Pois amem-se, cuidem-se, protejam-se e confortem-se mutuamente
E os conselhos, claudicarão por falta de necessidade, eternamente...

E assim é o meu desejo, como é possível ver, não é assim tão difícil.

" Ao cair, levantei-me. Caí e de novo me levantei, tropecei sem cair e hoje já nem tropeço nem caio e levanto-me para jamais te deixar cair. "

quarta-feira, março 08, 2006

À Mulher

Se as rosas falassem
Ao teu nome responderiam,
Se as estrelas conversassem
Só contigo se importariam,
Serias o assunto mais importante
E o único calmo e eternizante.

És como o chilrear das montanhas
Como a fraterna melodia do sol,
És capaz das melhores façanhas
E não há hino que te console
Pois mereces todo este mundo,
Já que o mudas num só segundo.

Permites que o veludo dos sonhos,
Rebole no linho de teu espírito,
E lá todos são calmos e risonhos,
Fazes-me sonhar, é um teu mérito,
Deslizo alegre nas palavras que tocas
E até ti o meu coração deslocas.

Mulher, tu és a pérola mais bela!
Mulher, és a jóia mais preciosa!
Mulher, és pintura sem aquarela,
Pintas-te sozinha e és tão graciosa!
Que toda maldade da sociedade
Nunca magoe tua bela fragilidade.

Viva Mulher! Perdoa nossos erros, Feliz dia, dias, anos, séculos e milénios.

quinta-feira, março 02, 2006

São só fases

Se um dia a chuva não chovesse,
O fogo não fosse em chamas,
A água não fosse molhada
Ou até que o redondo não fosse arredondado,

Então o ser humano também não sofria,
O sofrimento existe porque nós existimos,
A palavra "sofrer" deriva de nós
E somos nós que derivamos o sofrer,

Racionais ou irracionais,

Mas será que isso nos impede de sermos felizes?
Nunca! Jamais!

A chuva não é constante,
O Fogo pode ser apagado,
A água pode desaparecer
E a bola pode deixar de o ser,

São só fases que têm ciclos
E nós também os temos,
Por isso não há que chorar.
A tristeza é uma mera interrupção na alegria.

São só fases amigos, só fases ...

quarta-feira, março 01, 2006

Personagens IV

Ela empuleirava-se naquela enorme varanda,
Saciava-se com o odor e elegância dele,

Ele abanava-se todo, parecia que tinha penas,
E quando passava à frente dela, abria as asas,
Talvez querendo voar até ela.

Ela até passeava no mesmo jardim que ele,
Horas diferentes, é certo, mas tinha de lá ir, sempre.

Houve um dia que coincidiu passearem no mesmo sítio,
À mesma hora e no mesmo dia, trocaram um olhar terno,
Mas distante, doce, mas grandemente forte, muito forte.

E olhavam para cima, como se esperassem intervenção divina,
Uma permissão para se cruzarem e se tocarem, de facto.

Mas não podiam e nunca se tocavam,
Mesmo apesar de se terem visto no parque novamente ...

... Várias vezes ...

O Amor rogava por sair, mas o corpo não o deixava,
A mente proibia-os mas o pior ...

Ambos viviam presos, numa coleira feita de donos artificiais,
Numa casa escura, onde os minutos sofriam e esperavam esse mesmo dono.

Mas um dia o parque voltou a juntá-los,
Ele mordeu a coleira e fugiu,
Ela o mesmo fez e correu até ele.

Tocaram-se, sorriram, rebolaram pela areia,
Esgotaram todas as suas angústias e viveram, viveram.

E os donos?
Esses sentaram-se e esperaram que os seus cães os perdoassem, pelo facto de os terem privado do amor.

" E o que me dizem do amor na vida animal? "