quarta-feira, novembro 22, 2006

Personagens V

Ela voltou-se e disse:

- Há dias estava a observar um arco-íris, sabes, quando acaba de chover e se abre aquele solinho, por entre umas negras nuvens plantadas lá atrás. Tinha acabado de chegar a casa e parecia que a chuva tinha estado à espera que retornasse a meu lar para cessar e logo que corri as cortinas, prontamente despertou um inebriante arco-íris. Escancarei a janela e mesmo apesar do frio, senti uma enorme vontade de agarrar aquele espectro, parecia tão palpável! Quase como se fosse uma goma, doce e leve, pronta para ser consumida. Pensei na razão da Vida.

- Como podes analisar a vida e sua razão através de um arco-íris?! São duas realidades distintas que nada têm a ver uma com a outra.

- E se eu te disser que enquanto chovia tu choravas e as negras nuvens pareciam não mais se esgotar, mas que finalmente se dissiparam e tu paraste de chorar. A tua confiança e força sopraram as negras nuvens de outrora para longe e a luz do sol brilhou com a tua vontade e espírito. Ora se a luz incide sobre as lágrimas do passado, sentirás necessidade de abordar a realidade sem mais medos, abrindo o teu coração ao futuro e lançares tua luz - tua alegria - para novas experiências e com nova força, que as cambiantes cores do arco-íris.

- Mas tu própria disseste que ele te parece tão tangível, quando tu sabes que não o é. Tal como na vida real...

- Pois foi por isso que abri a janela. Ninguém deve ter medo de escancarar a janela da realidade e lutar pelos seus objectivos, mesmo que estes nos possam parecer impossíveis, se hoje mesmo abrires a tua janela verás que tens dezenas de arco-íris à espera de serem tocados.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Revoltas que a vida dá

Quando a vida gira à volta da roda que deu,
Dá dois passos e rebola num reinventar sem lugar,
Gira e dá dois passos adiante e enrola,
Enrola-se em si e recria-se sem se deslocar,

Gira e re-gira e corrige e avança,
Anda para a frente e tropeça e volta atrás.
Quando é esguia, que sempre o é,
Revolta-se e dá duas voltas sem centro,

Escava-se e esconde-se, até recair num canto
E distancia-se do local onde rebolou até cair,
Resvalando, sem saber, nas voltas que já deu.
Encosta-se, por estar tonta, enjoa e rebola,

Revira-se, pois dorme mal e enrola-se na manta,
Deixando o lençol cair sem tropeçar e solta-se
Da cama como a bola solitária, e rebola,
Sem nunca sair do lugar e sempre avançando.

Pois é isso que a vida é,
Um eterno ciclo de voltas concêntricas
E com os resultados todos trocados.
Não há certezas na certeza da vida.

"Há que rebolar até cair fora do ciclo, mesmo que a tontura possa ser constante"