sexta-feira, janeiro 13, 2006

Não vou escrever um poema

Não me apetece mesmo nada
Escrever estes milhões de pensamentos sob forma de verso

Não vou escrever versos,não vou!

Tudo direitinho e a rimar,
Como que os preceitos das fúnebres cerimónias ... ai não, isso é que não vou escrever!

É que nem, tão pouco, tenho rimas suficientes para fazer rimar a vida, ela não rima,
A vida é torta e disforme,
A vida é ora pequena, ora enorme (dizem os sábios que pode ser eterna),
A vida é inconstante, é um prego mal martelado, um lago sem fundo, um rio sem nascente nem foz, é uma ideia infinita e nunca revelada,

A vida é... a vida é um sonho "torto e disforme", que se aparenta real e sem remédio, mas que na noite a seguir pode ser pesadelo e na seguinte, um retrato guardado até ao fim dos dias.

Quais poema! Quais métrica! Quais rimas!
Eu quero é soltar-me, eu quero é libertar-me destas palavras que me arranham o coração e me devoram os sentidos.

Agora a poesia é um idílico campo de rosas e cravos em alegre harmonia, a poesia são os arredores do hospital, que se aparentam com um alegre jardim, mas carregam neles a dor incomensurável, as rimas, as métricas, os poemas, a poesia são as plantas, a vida é o hospital.

E se a minha palavra alcançar a luz da vida de alguém, quero que não desanime, pois se a vida é um hospital, então ainda há esperança.

Amo a vida que tenho, pois é o sonho do qual acordo todas as noites quando adormeço, todos os dias quando sorriem para mim e quando amo e amo alegre e seguro na paz da bondade mundial, que sei que existe.

Ámen Vida, ámen Mundo